top of page

Cooperativismo: a solução para um futuro sustentável


Cooperativismo: a solução para um futuro sustentável
Cooperativismo: a solução para um futuro sustentável. Foto: Ilustração: Fábio Abreu.

O movimento, que carrega valores como democracia, equidade e interesse pela comunidade, será potencializado pela tecnologia e pelo investimento em inovação


Qual será o modelo de negócio do futuro? Certamente aquele que compreender melhor as necessidades dos consumidores, que cada vez mais valorizam iniciativas que reúnem desenvolvimento econômico, social e sustentável.


A resposta existe no presente: o cooperativismo, que traz em seu DNA valores como democracia, sustentabilidade, interesse pela comunidade, pensamento coletivo e foco na qualidade de vida. O movimento, que começou há mais de 120 anos no país, hoje congrega cerca de 17,1 milhões de brasileiros, em 4.868 cooperativas, de acordo coma OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras).


No cenário nacional, o modelo engloba menos de 10% da população, mostrando que ainda há muito espaço para crescer. Entretanto, no panorama estadual, a abrangência do cooperativismo é bem maior: quase metade dos catarinenses participa de uma instituição; são 3,4 milhões de cooperados, segundo a Ocesc (Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina).


Para fazer com que esses números continuem crescendo no futuro, as cooperativas precisam compreender e se adaptar às aceleradas transformações tecnológicas, além de investir pesado em inovação. Para a gerente geral do Sistema OCB, Fabíola Nader Motta, duas características devem ser trabalhadas pelas instituições: agilidade e capacidade de se reinventar.


“A primeira é a habilidade de se adaptar rapidamente à mudança ou até antecipá-la e liderá-la, corrigir o rumo o mais cedo possível. A segunda permite que as cooperativas criem produtos ou serviços que as diferenciam da concorrência e as façam perdurar”, explica.


A cultura Data-Driven, que é a gestão orientada por dados, pode ajudar as cooperativas a se manterem sempre um passo à frente. “Os gestores devem criar mecanismos que tragam informações do mercado em tempo quase real, que amparem a geração de insights e a tomada de decisões mais assertivas”, lembra Fabíola.


Os dados também auxiliam a desenvolver uma habilidade preditiva dentro das instituições, que será muito importante para acompanhar as tendências globais, segundo a consultora e futurista Letícia Setembro.


“Os planejamentos estratégicos terão que se adaptar a um olhar muito mais de médio e longo prazo para se posicionar em uma cadeia de valor mais interessante para o futuro. É preciso melhorar os processos internos de inovação e desenvolver modelos de trabalho diferentes dos atuais”, ressalta.


Situações futuras externas, como o envelhecimento da população, a super urbanização, a escassez de recursos e as questões climáticas vão impactar as ações das cooperativas e podem apresentar novas oportunidades de negócios.


Os investimentos em automação de processos e digitalização já são uma realidade dentro das cooperativas.


Quem não está no ambiente on-line ficou para trás. Iniciativas como aplicativos de gerenciamento, chatbots, assembleias virtuais, tele consulta e até moedas digitais foram adotadas pelas instituições nos últimos anos e proporcionaram um atendimento mais ágil aos cooperados.


Apesar disso, os canais presenciais não devem desaparecer tão cedo. “As cooperativas ainda precisam ter atenção àquele sócio mais tradicional, que valoriza o contato humano. Por respeito a esse sócio, o presencial deve ser mantido, mas a transição para o digital vai acontecer de forma natural, por convicção dos próprios sócios”, comenta o superintendente da Ocesc, Neivo Luiz Pinho.


Até 2050, uma série de novas tecnologias vão mudar esse modelo de negócio, aumentando a produtividade, potencializando resultados e melhorando a experiência dos cooperados. Alguns recursos já foram colocados em prática, como o uso de drones e robôs, o Blockchain, o cooperativismo de plataforma e a inteligência artificial, porém outras inovações ainda estão à caminho.


É o caso do 5G, do Metaverso e de uma nova forma de organização, chamada de DAO. Para além desses instrumentos, o movimento não pode esquecer os princípios que nasceram com ele: a responsabilidade social, ambiental e de governança, que hoje é conhecida pela sigla ESG.


Máquinas trazem resultados positivos, mas não substituem o ser humano


A venda de robôs industriais bateu recorde em 2021. Segundo a Federação Internacional de Robótica, foram mais de 486 mil unidades. O faturamento do setor no ano passado foi de US$ 25 bilhões, mas em 2030 deve saltar para US$ 260 bilhões, de acordo com o Boston Consulting Group.


Uma ferramenta em plena expansão que vem para tornar o cooperativismo mais automatizado e eficiente. Ao contrário do que pode parecer, os robôs não vão substituir a mão-de-obra humana. Eles são e serão ainda mais utilizados para tarefas consideradas repetitivas e como possuem alta precisão, devem reduzir erros e evitar riscos.


As máquinas, no entanto, não têm a capacidade de definir os próprios objetivos e pensar criativamente. “A máquina nunca supera a pessoa, porque ela não consegue chegar em habilidades de tomada de decisão que o ser humano tem. Quanto mais caminhamos para a máquina, mais o líder caminha para ser um ser humano que engloba questões como autoconhecimento e inteligência emocional”, raciocina Letícia.


Os robôs já são utilizados principalmente nas cooperativas do agronegócio e da saúde. No primeiro ramo, as aplicações envolvem o controle de plantas daninhas, o plantio de sementes e até a colheita de cultivares sensíveis, que necessitam extrema precisão.


Na saúde, as possibilidades são inúmeras. Os robôs são usados na realização de cirurgias complexas, tornando os procedimentos menos invasivos e mais seguros, além da limpeza de ambientes hospitalares.


Apesar de hoje funcionarem como um auxiliar para os médicos, a expectativa é que os robôs possam executar cirurgias sozinhos no futuro. Outro equipamento que começou a ser empregado no agro recentemente é o drone, seja na aplicação precisa de defensivos agrícolas ou no monitoramento do plantio.


“O drone vai revolucionar o campo e será grande parceiro para a preservação ambiental, porque é sistêmico. Vamos continuar usando produtos para controle de ervas daninhas, mas sem escorregar esse produto para o rio, por exemplo”, afirma o superintendente da Ocesc.


Em 2021, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento publicou portaria que estabelece regras e exigências legais para o uso da tecnologia.


Drones para inspecionar silos reduzem os riscos de acidentes


A Lar Cooperativa Industrial, uma das maiores do Brasil e com atuação em Santa Catarina, investiu na utilização de drones para inspecionar elevadores de silos, estruturas com até 30 metros de altura que ficam em locais de difícil acesso.


Antes, a manutenção era realizada por funcionários, mas o serviço apresentava riscos. Com o equipamento, houve ganho de eficiência no processo e mais garantia de segurança aos trabalhadores.


As oportunidades do cooperativismo de plataforma

Plataformas como iFood e Uber são hoje agentes importantes da economia global, mas indubitavelmente contribuíram para o aumento da informalidade e até da precarização do trabalho. Em resposta aos modelos tradicionais, surgiu em 2014 o Cooperativismo de Plataforma, que combina os princípios cooperativistas com as oportunidades de negócio oferecidas pela tecnologia.


“A ideia surge do apelo em buscar uma forma de participação mais justa, par afazer deste recurso uma ferramenta não para enriquecer as corporações, mas sim para trabalhar em benefício dos usuários”, esclarece a gerente geral da OCB.


O Cooperativismo de Plataforma oferece uma gestão autônoma e melhores condições aos trabalhadores, todavia precisa ser potencializado para competir com os modelos tradicionais. A OCB sugere a possibilidade de admitir investidores-anjo, auxílio de startups no desenvolvimento de aplicativos e também a participação de cooperativas em sociedades não-cooperativas.


Cooperativas de entregas ajudam na saúde e na mobilidade urbana


A Urbike foi criada em 2018 por entregadores da Bélgica. O propósito é ser uma plataforma sustentável e saudável para a mobilidade urbana, porque todas as entregas são feitas de bicicleta.


Os cooperados são donos do algoritmo que define o preço das corridas, o que assegura maior distribuição de renda e um trabalho decente. A Urbike já realizou 45 mil entregas, movendo 300 toneladas de mercadoria e congregando 280 cooperados.


Por: PÂMELA SCHREINER, FLORIANÓPOLIS

Comments


bottom of page